Querido Blog
Hoje, vou discutir um assunto no qual sou especialista, minha grande área de atuação e que os vários anos de vivência me fazem cada dia melhor nele: nada. Isso mesmo, sou daquelas criaturas afortunadas e raras que tem o dom de não ter dom nenhum.
Área nenhuma de habilidade, tema nenhum no qual transite com desenvoltura e segurança. Nada. Creio que descobri essa vocação ainda criança, quando os desenhos ficavam ridículos à medida em que eu crescia, mostrando uma inabilidade surpreendente até mesmo para os meus pais (os pais sempre acham seus filhos ótimos, mesmo quando já demonstram séria incompetência...).
As apresentações da escola foram outro ponto alto da minha infância... Aquela pequerrucha gordinha no meio dos outros, sempre parecendo mais velha por ser disparatadamente maior que os coleguinhas. Fazendo o melhor na hora de dançar, segurando a timidez até doer a cabeça, lá estava eu! Dançando desajeitada e minha família se rasgando por ver a primogênita tão planejada e aguardada, fruto de uma gravidez de risco, desabrochando no palco da escolinha... Mas novamente aquela certeza de que meu caminho não era a dança... Era o nada.
O tempo passou e tive confirmações desse dom latente: a proeza de nunca conseguir entender matemática; o pavor da bola vindo na minha direção, no joguinho de vôlei da educação física (e o fato de ficar de recuperação nessa matéria!!); não saber usar compasso e régua pra fazer triângulos na prova de Desenho Geométrico... Ah, o nada, o nada!
Durante um período curtíssimo na minha vida, fui magra e formosa, um arrasa quarteirão. Na flor da adolescência. Eu me achava! Não sei como, passei no vestibular de uma facul estadual top por essas bandas de cá. Mas, como eu tinha conseguido um namorado e estava eufórica por aparentemente ser popular (no bom sentido), não fiz o curso porque casei e tive um filho (não nessa ordem, nem nesses termos...). Já passava dos 19 anos, ok? Tá bom, tá bom! Eu estava com 20.
Mas tenho certeza que esse incidente (permanente...), não foi obra da imprudência... Foi o forte chamado do nada. É assim mesmo, quando nascemos com um caminho traçado, uma aptidão loucamente desenhada em nossas vidas, não tem escapatória. Resumindo o post e minha vida: hoje, falo com experiência de anos de dedicação: eu vivo o nada. Eu sei mais sobre o nada que ele próprio. Larguei dois cursos universitários (deixei a peteca cair, esqueci minha vocação para o nada e passei outras 2 vezes no vestibular, mancada, né?), porque isso tirava meu foco em saber cada dia mais sobre nada.
Vejam, o Nada também se ramifica em Coisa Nenhuma , por isso, posso dizer a vocês, que entendo muito de coisa nenhuma. Sou o orgulho, ainda que silencioso e oculto, da minha família. Imaginem a satisfação que é para um pai dizer: minha filha mais velha sabe de nada! Ela não fez ou aprendeu coisa nenhuma!! Isso poderia atrair a inveja dos outros, com seus pobres filhos médicos, professores, engenheiros, etc. Cruzes! Meu progenitor é um homem sério. Ele prefere se abster aos comentários invejosos dos outros...
Mas, creio que esse campo está um pouco saturado... Afinal, eu exploro esse conceito há quase 3 décadas! E, embora ache ridículo alguém na minha idade jogar tudo pro alto e iniciar uma nova carreira, tenho pensado seriamente em me aperfeiçoar em outra área... Sei lá... Tenho medo de virar a ovelha negra da família, motivo de vergonha por abandonar o nada assim... Mas preciso enfrentar! Não tenho certeza de nada ainda, mas vou remar contra essa habilidade nata de coisa nenhuma, porque o tempo urge. É... Acho que pode ser uma boa ideia...
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